terça-feira, 6 de abril de 2010

A mídia e a reconstrução da identidade nacional

Análise do filme Triunfo da Vontade, a partir de estudos sobre teorias da comunicação.


A propaganda se mostrou a arma mais poderosa do arquivo bélico de Hitler. A obra fílmica “Triunfo da Vontade” se apropria da teoria hipodérmica e a comprova quando estabelece a censura mascarada e demonstra o poder persuasivo descomunal do líder do partido nazista. No filme é explícita a seleção - por vezes maquiada - de momentos históricos, onde soldados se divertem nos acampamentos e se mostram exemplos a serem seguidos, crianças colecionam souvenires nazistas e ficarem honestamente felizes por serem alemãs e o apelo psicológico de homenagens a soldados mortos na guerra, hipocritamente tratados como se fossem únicos. O jovem é intimado a trabalhar pelo futuro, tem o papel de destaque nas “homenagens” nazistas, perceptíveis na intensidade em que são mostrados e nos closes da câmera. 

Leni Riefenstahl e Hitler se apropriam de características regionais e as faz parecerem divinas, enfatiza o sangue alemão, as raízes, direciona-se a jovens fortes e a população é receptiva a tudo isso.
Deve-se considerar a convocação dos soldados e líderes, mas principalmente a não convocação do grande público civil, que foram convencidos a estarem lá, cheios de boa vontade, apreciando o homérico evento registrado no filme. Há também o forte apelo simbólico que vai de hinos e bandeiras a posições da câmera que favorecem Hitler (de baixo para cima). O discurso nazista é unificado, não há oposição nas milhares de pessoas que aparecem no vídeo, todos são a favor do partido. Desse modo há grande demonstração de força, o líder tem aparentemente o país inteiro do seu lado é impossível que ele perca o poder.

Ao persuadir o público através do jornal, cinema, rádio, foto e televisão, o manipula através do discurso direto, feito pessoalmente montado no púlpito, com uma abordagem direta. Definitivamente há manipulação dentro de uma atmosfera de persuasão, Hitler tornou os alemães, pessoas comprometidas com o governo nazista.
De acordo com a teoria hipodérmica, quando uma mensagem é enviada pela mídia para o público ela é aceita, sem hesitação. Esse ataque direto da propaganda tem o poder de moldar e manipular a opinião do receptor de modo a seguir a ideologia do emissor. Deve se levar em conta a existência dos líderes de opinião, indispensáveis para a ligação com a massa. Com a estética propagandista e o conteúdo das mensagens autoritárias e seguras de embasamento Hitler, os líderes que discursam ao longo do filme e Leni Riefenstahl criam uma atmosfera de inspiração ao orgulho patriota.

A propaganda em formato de documentário mobilizou estruturas como a do Congresso, construiu um comício extraordinário, encheu as ruas da cidade e Hitler colocou à disponibilidade de Leni, todos os recursos que ela precisasse para construir a propaganda. Hitler encomendou o molde da realidade a seu favor, recriou a identidade nacional - criando a esfera de uma sociedade ideal, trabalhadora e colaboradora que adora seu líder. O Fürer tem sempre sua figura centralizada, poderosa, confiante e com seus líderes na retaguarda, a reconstrução da nação alemã foi consagrada pelo discurso maquiado de um líder extremamente persuasivo.

Se agulha hipodérmica já foi algum dia esterilizada, Hitler, Goebbels e Leni Riefenstahl tiveram a boa vontade de contaminá-la.



*Produzido no terceiro semestre da faculdade de Jornalismo, para a disciplina de Teorias da Comunicação II. Professora Lilian Muneiro.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A lenda da expressão



A máscara da censura recai sobre as verdades ao sabor dos acontecimentos. A relação entre o Estado e a imprensa existe desde o surgimento dos jornais e folhetins. Esse conturbado casamento impede a imparcialidade dos jornais uma vez que livre do Estado o jornal depende dos patrocinadores e corre o risco de perder verbas por querer denunciar possíveis fraudes. Sendo assim o conceito de liberdade deve dar direito para que todos publiquem suas idéias, mesmo que venha a ferir o próprio ego. 

Há séculos o jornal foi transformado em instrumento de luta ideológica, onde objetivamente eram impostos regulamentos que feriam à liberdade de imprensa. Não era possível ter acesso nem divulgar ideias e informações que revelassem novas verdades dentro da sociedade. A deturpação dos veículos de mídia fomentou-se pela subjetividade de figuras políticas, partidos, empresas e até pelo próprio veículo de comunicação para publicar e praticar eufemismo de suas próprias atividades. Especialmente no Brasil, em 1964 iniciou-se o golpe militar e junto com ele a censura. Foi decretado a proibição da publicação de qualquer pensamento, crítica ou texto noticioso que dissesse respeito ao governo ou à ditadura militar. Surgiram protestos implícitos em textos para que o público obtivesse informações críticas ao governo, receitas culinárias estranhas, músicas do Chico Buarque de Hollanda e Gilberto Gil entre tantos outros artistas que fomentavam à liberdade de expressão. 

A falácia encarrega-se de tornar determinada ideologia (que pode ser falsa), ou a própria vontade, objetos de embasamento da verdade global. Isso reduz a história do compromisso com a verdade que a mídia diz ter, onde através da retórica, se reflete para qual caminho os veículos de mídia se inclinam, delineados pelos patrocinadores. Antes de um veículo midiático ser independente, os jornalistas que formam o alicerce daquele, deve ser crítico e liberto das ideologias privadas. A realidade vem em contraste dessa utopia: a censura mudou sua forma, mas ainda está infiltrada no sistema e sustentando a barreira que não deixa a tão sonhada liberdade de imprensa concretizar-se de fato.



*Produzido no segundo semestre da faculdade, para a disciplina de Redação II. Professora Marília Maciel.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Consumo dos signos



O mercado econômico mundial é movimentado pela aquisição de bens de consumo, o qual todas as classes sociais contribuem indiferente de sua renda. A forma de atingir todos os públicos se dá através da venda da imagem de um produto utilizando o meio midiático. A relação da mídia com o consumo é extremamente íntima pois um movimenta o outro, ou seja, da mesma forma que a mídia vende o produto, a empresas fabricantes recheiam o conteúdo de propaganda na mídia.

Propagandas publicitárias afetam a decisão do consumidor em grande parte, por isso o que anuncia o fabricante quando quer vender o produto é a marca. Os produtos precisam de um logotipo e um slogan de impacto para atingir o público alvo. O âmbito do consumo tem sua fonte – principalmente – nos shoppings centers, lugar feito somente para o consumo, corredores iluminados com vitrines extremamente coloridas e atraentes, seduzem o público. Criar um ambiente familiar também é importante, pois o público que compra desenfreadamente são as crianças, não tem noção do custo-benefício de um produto. 

Mas porque os indivíduos sociais compram tanto? Talvez pela variedade de produtos, ou por quantidade, mas conclui-se que status é o que mais induz ao consumidor a comprar determinados produtos, de determinadas marcas. Nas propagandas publicitárias, os produtos vendem imagens de felicidade, liberdade, família, sucesso e amigos, que são sentimentos ou bens que todos querem adquirir. As propagandas publicitárias atingem o público no seu ponto mais fraco: fazem da compra, a cura para necessidade sentimental. 

Cada vez mais o ser humano é atingido por milhares de informações ao dia, as propagandas entraram no dia-a-dia de todas as pessoas, seja na televisão, rádio, jornal impresso ou revista, outdoors, indoors, cartazes, propagandas em traseira de ônibus, seja na rua ou dentro de casa o ser humano é induzido ao consumo. Consumir, tornou-se um ato simbólico e, não mais material. Adquirir um bem significa adquirir uma qualidade, um sentimento, uma ideologia e não mais uma utilidade. Sendo assim, observa-se a distinção de classes sociais e grupos urbanos. Ou seja, os produtos não são mais apenas um utilitário universal, empresas fabricam o mesmo produtos mas vendem em diferentes lugares e marcas, para atingirem todos os públicos, classe média e baixa compram o mesmo produto e pagam preços diferentes. 

O mercado consumidor foi readaptado para vender a marca, a ideologia do produto, e não mais a qualidade, como consequência o indivíduo consumidor se moldou tais padrões. Determinados grupos urbanos utilizam vestimentas que vendem características pessoais, ideologias, atitudes que o identificam com as demais pessoas que aderem a determinados grupo. Outra distinção vêm através da classe social, o público da alta classe adquiri produtos caros de marcas importadas, e a classe baixa para inserir-se naquele acaba aderindo a produtos extremamente caros. A cultura do consumo deve ter seu espaço para reflexão, pois tornou-se um ato comum e sem parcimônia, pois as propagandas nos induzem – inconscientemente – a uma necessidade que nunca existiu. 

A tecnologia também tem seu papel importante no mercado, as empresas utilizam de jogadas de marketing extraordinárias, para manter o público comprando produtos todos os dias. A tecnologia desenvolve diariamente modelos novos de produtos, mais fáceis, mais rápidos, mais dinâmicos e lançam eles em cima daquele produto que até então era a última tecnologia, transformando-o num objeto ultrapassado. Empresas apelam agora para o chamado ecológico, para o consumo sustentável, e se envolvem em parcerias com ONGs ou grupos sociais, tudo para vender (novamente) a imagem positiva Não tem como sobreviver numa sociedade de consumo, se não, consumindo no ritmo que as empresas ditam, a não ser que o público tome consciência da cultura do consumo e faça dessa um ato racional.

sábado, 9 de maio de 2009

Máscara ecologicamente correta - Marketing Ambiental

A preservação ambiental está em alta e acima de qualquer cuidado com a natureza, as empresas visam crescimento no mercado e maiores lucros. Ao passo que o público toma maior consciência do seu papel social, as empresas se valem disso e promovem em sua marca através da ética ecológica. É assim que funciona o marketing ambiental, que incorpora a preocupação da preservação e promove a conscientização ambiental por parte do mercado consumidor, pois seu caráter é muito mais de educação ambiental do que mero estímulo à compra. Porém, não é bem assim que funciona.

A empresa utiliza da propaganda para instigar o consumo do produto, divulgando vantagens em consumir produtos ambientalmente responsáveis, sendo assim, é estimulado o interesse já existente por parte do consumidor, ou despertando o desejo pelo produto.
Dentro dessa consciência ambiental, não cabe à empresa auto-intitular-se responsável ambientalmente sem possuir um estudo detalhado para a linha produtiva. No desenvolvimento do produto, deve verificar-se a quantidade e a espécie dos gases que são jogados à atmosfera, o nível de consumo de água e se a matéria-prima está sendo devidamente utilizada. E isso também não é divulgado na embalagem, que traz somente mensagens como "responsável ambientalmente", "verde", "livre de químicos" ou "ambientalmente produzido".

A máscara ecologicamente correta é denominada "greenwashing", onde a empresa vende a imagem de responsável ambientalmente, mas continua provocando impacto ambiental. para esconder a imagem negativa, recorre-se a financiamento de ONG's e investimento em marketing agressivo, que não aparece nos relatórios de sustentabilidade, por ser um apêndice no projeto da gestão empresarial. Há também o equívoco entre sustentabilidade, filantropia e assistencialismo. Várias empresas adotam escolas públicas ou praças, o que não tem ligação nenhuma com produção ecologicamente responsável, ou seja, as empresas utilizam de assistencialismos vistos publicamente para mascarar uma produção ilegal.

Entre as empresas que já foram retiradas da carteira de Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) - o selo verde que dá status ecológico negociados na bolsa - encontram-se gigantes como a Petrobras, devido ao não-cumprimento da resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que prevê a redução dos níveis de enxofre no diesel comercializado no Brasil. Aracruz, Copel e Iochpe-Maxion também foram flagradas como patrocinadoras de práticas nocivas ao meio ambiente.
Sendo assim, o marketing ambiental não passa de uma estratégia para dar forma à política ambiental da empresa, pois a medida que os consumidores tomam consciência dos impactos ambientais, tendem a ir para o lado "verde" dos produtos.

Ser uma empresa verdadeiramente responsável ecologicamente, tem se tornado um fator positivo no balanço administrativo final da empresa, por exemplo: se os materiais utilizados na produção forem utilizados devidamente, e reutilizados, é possível realizar a redução de custos; bancos como BNDES e BID oferecem linhas de crédito específicas para projetos ligados ao meios ambiente, com maior prazo de carência e menores taxas de juros, facilitando a obtenção de recursos; o governo também tem liberdade de pressionar as empresas - através de legislação - proibindo a aquisição por parte das empresas, de produtos que afetem o ambiente físico e também, pressão por parte das ONG's com o apoio da imprensa, que através de campanhas podem desmascarar empresas.

No Brasil, o grupo de consumidores responsáveis é inferior a 10% do total, contudo tende a crescer nos próximos anos. Empresas como Natura e Pão de Açúcar são destaques no relatório divulgado no final de 2005 através do estudo elaborado do Walk the Talk - realizado pelo Pacto Global (iniciativa da ONU em prol da responsabilidade social), Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas e consultoria francesa Utopies - A empresa de cosméticos Natura foi eleita como uma das cinco pioneiras do marketing verde no mundo, mostrando qu houve um crescimento de 32% nas vendas no período de 2002-2004, resultando numa receita de US$ 604 milhões (em 2004). No caso de rede de hipermercados Pão de Açúcar, a empresa criou o projeto Caras do Brasil, que consiste em colocar produtos de pequenos agricultores à disposição dos consumidores.

As corporações também adotaram a proposta de se associarem ao poder público e a organizações não governamentais, que indiretamente promoverão o produto e a marca. Portanto o chamado "ecomarketing" não passa de uma estratégia empresarial para promoção produtiva, porém, se os consumidores portarem de maior conscientização e informação dos relatórios sustentáveis, poderão exigir mais integridade por parte das empresas dotadas de uma postura que não passa de uma máscara ecologicamente correta.


*Produzido no primeiro semestre da faculdade, para a disciplina de Redação I. Professor Luís Fernando Assunção.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Reflexão a partir de Matrix

A todo tempo o homem cria situações perigosas e de tensão para existir somente dentro da ficção cinematográfica, com isso a sociedade se torna anestesiada pelo fato de que uma história fictícia é totalmente baseada na possibilidade de realmente acontecer. Temos como exemplo a diversificação cultural onde em certos lugares é totalmente comum a prática de um ritual específico, e quando por acaso acontece dentro de uma realidade oposta a essa cultura, provoca inaceitação, repúdio e até o caso de sensacionalismo da mídia, onde evidencia a hipocrisia de que enquanto não acontece dentro da nossa realidade, não nos diz respeito.

Utilizamos da filosofia como campo para pensamentos muitas vezes surreais, e em apologia ao filme Matrix, colocamos nossa existência em questão. Fato é que não se ouve alguém filosofando sobre realidade, quando podemos trazer todo esse pensamento e encaixarmos perfeitamente no modelo político-social atual. Certamente desconhecemos detalhes da economia brasileira, ou até mesmo local, se alguém sabe falar com liberdade sobre tal assunto me liga porque muito me interessa. Concluo que a suposta Matrix, não é tão surreal assim, ela é muito mais próxima do que imaginamos, Sr. Governo.


*Desabafo anotado em folha do caderno, durante a aula de filosofia, no primeiro semestre da faculdade.